Este projeto surgiu a partir de uma situação de aprendizagem em artes visuais do Caderno de Arte da Proposta Curricular para as escolas públicas do Estado de São Paulo, com uma sala de 40 alunos do 2º ano do Ensino Médio da Rede Estadual de Ensino. A situação elegia a fotografia compreendida como linguagem da arte e apresentava dois artistas-fotógrafos: Cristiano Mascaro e Vik Muniz.
Iniciei a proposta discutindo com os alunos a “fotografia digital” como facilitadora das técnicas fotográficas dos procedimentos técnicos do passado: o fácil acesso através de câmeras em celulares, a superação das questões financeiras da compra de filmes, a facilidade para escolher algumas fotos para “guardar” e “apagar” as que não interessam. Procurei mostrar para os alunos que, por outro lado, cada vez menos parece haver um cuidado com a escolha do “clique” e a preocupação com o que se quer revelar sobre o que está sendo visto e fotografado. A tecnologia oferecendo dois lados da mesma moeda: facilidade de acesso e banalização.
Considerando que a imagem hoje é uma extensão da vida de nossos jovens e de todos nós, que muitas vezes nos flagramos imitando o vídeo e a imagem das revistas como nosso ideal de vida, a ideia de desenvolver um trabalho com fotografia foi natural e alegremente absorvida pela turma.
Foi partindo da leitura das fotos de Cristiano Mascaro e Vik Muniz apresentadas no Caderno de Arte e fotos de autoria dos próprios alunos tiradas no dia-a-dia que a experiência educativa se desenvolveu. Este processo de experimentação, que teve início no 2º semestre do ano de 2009, durou cerca de um mês, com oito aulas divididas em duas aulas de arte semanais.
Foi um trabalho de curta duração, mas iniciou um processo de investigação e possibilidade de aprofundamento com a experiência estética da fotografia que continuou se desdobrando no ano de 2010.
O objetivo central do trabalho foi exercitar o olhar do aluno para a visualidade incomum, colocando em prática um olhar mais atento e sem pressa, fazer pensar e refletir sobre sua identidade, transformando a atitude de fotografar em experiência estética através da consciência e manipulação dos elementos da linguagem fotográfica.
A apreciação das fotos no Caderno de Arte foi o “start” no processo desta experiência.Logo percebi uma afinidade natural desses jovens com a linguagem fotográfica e, como havíamos trabalhado com intervenção artística no bimestre passado, surgiu a ideia de montar equipes de “fotógrafos digitais” para percorrer e observar com mais atenção o espaço escolar. Era uma ótima maneira para colocar em prática os elementos da linguagem fotográfica utilizando um recurso de fácil acesso para eles: suas próprias câmeras nos celulares.
Percebi que se empolgaram com a ideia de fazer uma das coisas que fazem “brincando” todo dia: fotografar! Havia naquela proposta um desafio: a fotografia como linguagem artística e não o que ela se tornou hoje: uma banalidade do cotidiano.
Antes que isso acontecesse, num primeiro momento, preparei algumas atividades que levassem os alunos a conhecerem os principais elementos da linguagem fotográfica (enquadramento, pontos de vista, close, etc.). Depois, num segundo momento, pedi que trouxessem fotos de sua própria autoria (amigos, família, festas...), com o objetivo de que mergulhassem e refletissem a respeito de cada imagem e percebessem que a fotografia é mais que um registro da realidade, ela produz outras realidades como construção simbólica.
Através desses exercícios, comecei a perceber um olhar mais calmo e atento dos alunos ao “olharem” uma imagem. Vitória! Conscientes dos elementos da visualidade e envolvidos pela afetividade de suas realidades internas, achei que estavam preparados para a “expedição fotográfica”. O terceiro passo foi a organização de grupos e um tempo para que cada equipe saísse e trouxesse imagens bonitas e cheias de significado. A avaliação ocorreu durante todo o processo quando procurei observar o interesse e a intenção dos alunos ao escolherem seus temas, ângulos, objetos e os possíveis significados construídos durante as discussões. A etapa final foi uma exposição no teatro da escola aberta a todos os alunos inclusive a comunidade local onde os visitantes puderam deixar registradas suas impressões sobre as fotos, gerando conexões que construíram outros significados para as fotos enriquecendo o trabalho.
Durante todo o processo, me surpreendi com várias imagens captadas! Algo realmente se transformou na atitude de ver e “clicar” desses jovens. Foram cerca de quatro semanas de experimentações trabalhando diferentes elementos da fotografia, discussões e seleção de imagens. Procurei avaliar cada etapa através do interesse e participação dos alunos e principalmente dos seus registros, onde puderam refletir a respeito do que estavam fotografando. Os adolescentes percebem e sentem coisas diferentes daquilo que muitas vezes imaginamos. São capazes de mergulhar em trabalhos e criar coisas belíssimas quando valorizamos o que têm de melhor: sua espontaneidade e alegria. E foi através dos seus registros, juntamente com o resultado das novas imagens que pude perceber a transformação de um “olhar automático” para um olhar estético.
Tendo em vista a proposta pedagógica da escola que visa principalmente “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”, esses ensaios fotográficos visando o “olhar com calma”, a desaceleração e a quebra do automatismo nas ações do homem contemporâneo, vieram ao encontro do universo lúdico desses adolescentes de classe média baixa onde a imagem é cada vez mais facilmente absorvida sem que tenhamos consciência das mensagens que elas nos passam e da influência delas em nossas vidas. Essa questão permeou todo o processo de criação dos alunos, e valores como respeito, cooperação, amizade e verdade também foram trazidos à tona nas equipes durante o trabalho.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Editora Perspectiva, 1988. HOLM, Anna Marie. Fazer e pensar arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2005. MACHADO, Arlindo. A ilusão especular: introdução à fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984. Caderno de Arte vol.II da Proposta Curricular do Estado de São Paulo
Iniciei a proposta discutindo com os alunos a “fotografia digital” como facilitadora das técnicas fotográficas dos procedimentos técnicos do passado: o fácil acesso através de câmeras em celulares, a superação das questões financeiras da compra de filmes, a facilidade para escolher algumas fotos para “guardar” e “apagar” as que não interessam. Procurei mostrar para os alunos que, por outro lado, cada vez menos parece haver um cuidado com a escolha do “clique” e a preocupação com o que se quer revelar sobre o que está sendo visto e fotografado. A tecnologia oferecendo dois lados da mesma moeda: facilidade de acesso e banalização.
Considerando que a imagem hoje é uma extensão da vida de nossos jovens e de todos nós, que muitas vezes nos flagramos imitando o vídeo e a imagem das revistas como nosso ideal de vida, a ideia de desenvolver um trabalho com fotografia foi natural e alegremente absorvida pela turma.
Foi partindo da leitura das fotos de Cristiano Mascaro e Vik Muniz apresentadas no Caderno de Arte e fotos de autoria dos próprios alunos tiradas no dia-a-dia que a experiência educativa se desenvolveu. Este processo de experimentação, que teve início no 2º semestre do ano de 2009, durou cerca de um mês, com oito aulas divididas em duas aulas de arte semanais.
Foi um trabalho de curta duração, mas iniciou um processo de investigação e possibilidade de aprofundamento com a experiência estética da fotografia que continuou se desdobrando no ano de 2010.
O objetivo central do trabalho foi exercitar o olhar do aluno para a visualidade incomum, colocando em prática um olhar mais atento e sem pressa, fazer pensar e refletir sobre sua identidade, transformando a atitude de fotografar em experiência estética através da consciência e manipulação dos elementos da linguagem fotográfica.
A apreciação das fotos no Caderno de Arte foi o “start” no processo desta experiência.Logo percebi uma afinidade natural desses jovens com a linguagem fotográfica e, como havíamos trabalhado com intervenção artística no bimestre passado, surgiu a ideia de montar equipes de “fotógrafos digitais” para percorrer e observar com mais atenção o espaço escolar. Era uma ótima maneira para colocar em prática os elementos da linguagem fotográfica utilizando um recurso de fácil acesso para eles: suas próprias câmeras nos celulares.
Percebi que se empolgaram com a ideia de fazer uma das coisas que fazem “brincando” todo dia: fotografar! Havia naquela proposta um desafio: a fotografia como linguagem artística e não o que ela se tornou hoje: uma banalidade do cotidiano.
Antes que isso acontecesse, num primeiro momento, preparei algumas atividades que levassem os alunos a conhecerem os principais elementos da linguagem fotográfica (enquadramento, pontos de vista, close, etc.). Depois, num segundo momento, pedi que trouxessem fotos de sua própria autoria (amigos, família, festas...), com o objetivo de que mergulhassem e refletissem a respeito de cada imagem e percebessem que a fotografia é mais que um registro da realidade, ela produz outras realidades como construção simbólica.
Através desses exercícios, comecei a perceber um olhar mais calmo e atento dos alunos ao “olharem” uma imagem. Vitória! Conscientes dos elementos da visualidade e envolvidos pela afetividade de suas realidades internas, achei que estavam preparados para a “expedição fotográfica”. O terceiro passo foi a organização de grupos e um tempo para que cada equipe saísse e trouxesse imagens bonitas e cheias de significado. A avaliação ocorreu durante todo o processo quando procurei observar o interesse e a intenção dos alunos ao escolherem seus temas, ângulos, objetos e os possíveis significados construídos durante as discussões. A etapa final foi uma exposição no teatro da escola aberta a todos os alunos inclusive a comunidade local onde os visitantes puderam deixar registradas suas impressões sobre as fotos, gerando conexões que construíram outros significados para as fotos enriquecendo o trabalho.
Durante todo o processo, me surpreendi com várias imagens captadas! Algo realmente se transformou na atitude de ver e “clicar” desses jovens. Foram cerca de quatro semanas de experimentações trabalhando diferentes elementos da fotografia, discussões e seleção de imagens. Procurei avaliar cada etapa através do interesse e participação dos alunos e principalmente dos seus registros, onde puderam refletir a respeito do que estavam fotografando. Os adolescentes percebem e sentem coisas diferentes daquilo que muitas vezes imaginamos. São capazes de mergulhar em trabalhos e criar coisas belíssimas quando valorizamos o que têm de melhor: sua espontaneidade e alegria. E foi através dos seus registros, juntamente com o resultado das novas imagens que pude perceber a transformação de um “olhar automático” para um olhar estético.
Tendo em vista a proposta pedagógica da escola que visa principalmente “o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico”, esses ensaios fotográficos visando o “olhar com calma”, a desaceleração e a quebra do automatismo nas ações do homem contemporâneo, vieram ao encontro do universo lúdico desses adolescentes de classe média baixa onde a imagem é cada vez mais facilmente absorvida sem que tenhamos consciência das mensagens que elas nos passam e da influência delas em nossas vidas. Essa questão permeou todo o processo de criação dos alunos, e valores como respeito, cooperação, amizade e verdade também foram trazidos à tona nas equipes durante o trabalho.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Editora Perspectiva, 1988. HOLM, Anna Marie. Fazer e pensar arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2005. MACHADO, Arlindo. A ilusão especular: introdução à fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984. Caderno de Arte vol.II da Proposta Curricular do Estado de São Paulo
http://www.artenaescola.org.br/
Esse projeto ficou para a final do Prêmio Arte Na Escola no ano de 2010...UHUUUL!!!
Esse projeto ficou para a final do Prêmio Arte Na Escola no ano de 2010...UHUUUL!!!
Querida Lea!
ResponderExcluirTeu trabalho é maravilhoso!
Escolhi no site ARTE NA ESCOLA para comentar em meu curso de graduação justamente pelo imenso potencial criativo e pela execução do mesmo. Teus alunos devem ter muito orgulho de ti.
Sucesso no teu blog e na vida.
Abraços, soniamaris